PSIU...
Ouça
o silêncio é pleno
o silêncio não mente
o silêncio jaz
Sinta
o silêncio é claro
é fértil, é raro
irrompe espaços entre marés
espia o vão dos sonhos
faz a ponte entre o riso e a lágrima
Espera
silêncio dentro
é primavera
Isca de palavras
lavra de canções
prenhe de sons
silêncio condão
Psiu...
pousou um silêncio
no ombro da manhã
na concha do ouvido
na memória ensurdecida
vale ouro
toda vida
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LUA
ESCARLATE
Lua
escarlate
mar de espadarte
vida, beber-te
por mais que me mate
luas de Marte
o tempo é uma arte
o amor é um gesto
e o resto é resto
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CHEGADA
Chegar
sem bulir com o vento
espanar o cansaço das horas
esperar os sinais das mariposas
decifrar a cor do silêncio
respirar sombra e luz das folhas
se fundir com a água sem marolar
apagar o rabisco das mágoas
alma lavada seca ao sol
intimizar pássaros compartilhar flores
ordenhar pedras construir horizontes
iluminar estrelas lagartear ao sol
lambuzar nas frutas ajoelhar nas poças
mergulhar no fundo abraçar o mundo
pra poder dizer no espelho de teu olho
agora sou tua.
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ARROZ
E FEIJÃO
Por
isso eu sei
tornar tudo leve é um peso e errei
ao ser presa na pressa do breve
e tentei separar o que serve e não serve
na certa a panela do arroz
também faz o feijão
no tempero do alô coração
ferve o instante no além e vi lá
que alimento é o peso quem dá
negra terra pra gente plantar
esperanças no chão.
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REMANSO
conjuro
sombras no escuro da noite
onde a criança escolhe a lua
para não ter medo
onde o sonho
não é mais segredo
eu não mais penso
eu danço
não mais tenso
eu remanso
e a lua
imóvel
alcanço.
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VERTIGEM
todo
imenso é diminuto
eternidade é relance
toda certeza um engano
todo erro é humano
o fora e o dentro dois lados
da mesma ampulheta infinita
na beira do planeta para e fita
a dança das esferas espirais
no
cosmos de dentro o intento
música em cada célula pulsante
nossa boca é alto falante
para os sons que nos cruzam os espaços
então aceita ser encruzilhada
e caia na vertigem desse abraço.
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OUTRO
ATO
Outro ato
nem menos infinito
nem menos rouco
nem menos cortante
nem menos silêncio
nem menos urgente
nem menos absurdo
nem morto nem torto
nem fundo nem fardo:
o instante em que ardo.
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EU
E VOCÊ
Ainda
temos uma chance
De curar feridas
De refazer a vida
De dar pão aos peixes
De regar miosótis
De contar nuvens
De passear na chuva
De ninar criança
De aprender chinês
De cozinhar por prazer
De ler poesia
De viver um romance
De acender uma vela
De rezar pra valer
De emagrecer sem sofrer
De largar a velha casca
De pagar pra ver olho no olho
Eu e você.
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PROVOCAÇÂO
Se
a vida é um sorvete
Se chupar derrete
Se não chupar derrete,
Então, vamos chupar!
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SOLVENTE
Curto
o desperdício
Curo o início torto
O que dura é vício
O que derrete é porto
Pois no efêmero se encontra
A semente dura
Passaporte pro futuro
Energia pura
Solvente minha mágoa
Na água refrescante
Prazer derrete tudo
Que vá além do instante
Chupando esse sorvete
Jogando esse confete
Sou a vida que me vive
Sou o sol que me derrete
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TAMBOR
DE LUZ
Meu
couro repica mãos
batuca cordas, semeia graves
retumba e metralha
coração bumbo se vira
e dá tabefe nas mentiras
respira meu couro respira
no balanço dessa batucada
de ossos tendões e nervos
vísceras em disparada
fole de ar dando o tempo
de estar viva e mais nada
pele esticada que vibra
e se esfrangalha em tiras
arremesso que me voa
faz meu céu de madrugada
tambor tambor
meu o ritmo sou eu.
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O
AVESSO DO AVESSO
Arrasa-me
pulveriza a arrogância em meu plexo
Abata-me
certeiro golpe em minha vaidade
Humilha-me
faz que é quase nada glória e estrada
Renega-me
se esqueço o compromisso com a alvorada
Acusa-me
se fraquejo no confronto com a verdade
Despreza-me
se caio na tentação de armar com sexo
Mata-me
para que eu renasça de outro agora
Esqueça-me
se eu me esquecer de ir embora.
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JURÁSSICA
De Nintendo não entendo
nem ram nem rom na minha vida
quero é home e ser mais querida
desconfio da maquina que escraviza
que utilizando me utiliza
que oferece um mundo muito além
e nos corrompe e despersonaliza
scaneio e digito
meus dez pés atrás
uso mas não me iludo jamais
sei que esse buraco no meu peito
foi feito pela máquina voraz.
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ESCALADA
Subir subir subir
para ver melhor
abarcar o mundo
a terra inteira
vislumbrar a aurora
quando embaixo
ainda ressonam
carneiros e homens
envoltos em algodão
Ir
de encontro
ao confronto com o vento
desafiar a gravidade
alma caprina
olhos de horizonte
desafiando a morte
face a face
passo paso
resfolegando
alma pela boca
pedra sobre pedra
subir subir subir subir.
Lá no alto
mora um anjo.
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